quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Lobisomem em Cuiabá: Uma significação psicológica, histórica e sociológica.


Por: Ataide Ferreira da Silva Neto

A própria tradição histórica popular tem se ocupado em perpetuar as perniciosas e estranhas ocorrências emergidas em algumas localidades dos bairros cuiabanos, assim como, no interior mato-grossense.

Quando a lua cheia brilha no céu cuiabano, sinistros relatos vem acompanhando estas receosas épocas noturnas e, segundo os relatos, estranhas coisas passam a acontecer com as pessoas, pelos crescem, dentes alongam-se, psicológicos violentos e irracionais surgem repentinamente. 

Os relatos sobre o lendário lobisomem – de formas variadas – atravessam os tempos, os continentes, as culturas, impregnam na população, desavisada da lógica, a crença e o medo.

Seja pelos tradicionais relatos passados ao longo da história, dos pais aos filhos, seja pela mídia televisiva e escrita, pode firma-se que, as histórias de lobisomem, tem despertado arrepios nos mais supersticiosos. Os receios a esta lenda, vem percorrendo milênios, por intermédio de um mito generalizado entre diversas culturas e civilizações, favorecendo a permanência desta superstição.

A esta transformação bestial humana, no suposto poder de converter-se em lobo, uivar para a lua e rondar pelas noites em floresta, caatinga e no meio do mato, caçando e matando, foi denominado de Licantropia.

Foi através de Ovídio, autor romano, que o termo Licantropia foi designado, pois, de acordo com a história, este autor descreve, no ano um depois de Cristo, o mito do rei Likaon, onde conta que tal rei, de modo ousado, teria desrespeitado o deus Júpiter ao lhe oferecer carne humana escondida num banquete. No entanto, Júpiter havia percebido a trama e ficou extremamente irritado e, como conseqüência, acabou por jogar uma maldição sobre Likaon transformando-o maldosamente em um lobo. Por intermédio deste mito, apropriou-se, dessa forma, a denominação Licantropia.

Em psiquiatria, a licantropia refere-se a uma enfermidade mental com uma estranha tendência canibal, onde o doente comporta-se imaginariamente como um animal selvagem, semelhante ao cão ou ao lobo. Em casos mais graves, alguns desses pacientes supracitados comem apenas carne crua e negam-se a comer qualquer outro tipo de alimento.

A licantropia foi severamente descrita, esplendidamente, na antiguidade, onde durante vários séculos da idade clássica, inúmeros relatos documentados preocuparam a crença popular, sobre a suposta capacidade de transformação humana e a mágica capacidade de transformar outrem em animais.

No século IX, por exemplo, houve uma acalorada discussão entre o Pedro Damião e o Papa Leão IX acerca de um jovem que argumentava categoricamente a afirmação de ter sido transformado em asno por duas mulheres. Sem qualquer apresentação de provas, o jovem acusava inescrupulosamente duas idosas senhoras, por sua permanência, durante muito tempo, na forma de asno, que, segundo ele, apesar da metamorfose, conservou a inteligência humana e viveu assim como animal, por muitos anos, até que um dia retornou a sua forma primitiva. O Papa acreditou na história e ordenou que as bruxas fossem castigadas. (Relato encontrado no livro de: Oliveira, Martins – “Magia do Fogo”, Ed. Livraria Progredior, Porto, 1958, vol.1, 2º edição, pág. – 61).

Na Europa antiga, antes mesmo da ditadura cristã, a população era pagã, e viviam conforme seus costumes pagãos, onde apresentavam certa admiração pelos fenômenos da natureza, viam divindades nas matas, florestas e animais. Nas crenças dos rituais pagãos, a presença de um lobo representava os espíritos das florestas e o símbolo da liberdade.

Com a gradativa chegada do cristianismo, tais rituais pagãos de caráter pacifista foram distorcidos e o lobo passou a ser um dos vários demônios do inferno, assim o lobo passou a ser o próprio diabo. Algumas vezes o lobo era “embruxado” pelo demo.

Nessa visão medieval do catolicismo europeu, o lobo passou a ser o mal transformado, e assim tornou-se rotineiro acreditar que um bruxo poderia se transformar em animal, vagando pelos campos sob aquela arrepiante forma para causar malefícios aos cristãos.

Essas crendices foram motivos para muitas mortes. A credulidade na licantropia tornaram-se verdadeiras epidemias na Idade Média, onde imaginavam-se a existência de milhares de pessoas encobertas de pêlos, com garras e dentes afiados, comedores de crianças. Com a chegada da Inquisição na Europa, muitos homens e mulheres foram queimados vivos pela acusação da capacidade de transformar-se em bestas feras.

Para contribuir, naquela época antiga, a Europa possuía um número incrível de alcatéias. Por vezes, principalmente nas épocas de invernos rigorosos, os povoados e vilarejos europeus eram literalmente invadidos por famintos lobos que, pela escassez de alimento, optavam em satisfazer por alguma “apetitosa” criança descuidada, ou mesmo, qualquer homem adulto, que se arriscasse, tornava-se alvo de banquete aos esfomeados lobos. Tais fatos, conseqüentemente estimulavam os medos, as imaginações, as lendas e superstições épicas.

Muitos dos antigos autores franceses expressaram vastas argumentações sobre os aterrorizantes lobisomens devoradores de crianças. Segundo consta, alguns “licantropos” foram por muitas vezes deparados vagando em campos e matas, imitando o uivo de lobos, imundos, sujos de sangue.

Quando se suspeitava que um lobisomem perambulava pelos campos e arredores de algum vilarejo, logo a população era cogitada para a caçada ao monstro.

Pode-se firmar que, muitas das errôneas interpretações dadas como lobisomem, eram apenas pessoas tidas como loucas que percorriam os campos e as noites. Nada mais do que homens insanos, mal trapilhos, doentes mentais, pessoas relegadas por um povoado e\ou por um vilarejo, que, sem ter o que comer, atacavam as galinhas, bezerros, reviravam lixos, entre outros motivos congêneres impulsionados pela fome e pela debilidade de sua situação psicológica. Tais infelizes, por viverem abandonados, apresentavam aparência sinistra e medonha, pois se mostravam barbudas, cobertos de sujeira, sangue e detritos.

Outro notório fator à cooperar na formação da lenda dos lobisomens, está correlacionado com o sonambulismo, onde, pessoas normais, dormindo, levantam-se, passeiam e agem como se estivessem acordadas. Nas madrugadas de lua cheia, deparar-se estranhamente com algum indivíduo andando sem rumo, tornava-se motivo para suspeitas, pois a probabilidade do leigo desconsiderar qualquer compreensão sobre o sonambulismo é compreensivo, o que pôde auxiliar em estimular importantes inspirações para a perpetuação da lenda.

Há também as deformações físicas, assim como, doenças genéticas e\ou de natureza endócrinas, entre outras inúmeras imperfeições, cujo qual, atualmente é cientificamente explicado, mas que, no entanto, numa época remota, estimulavam o espanto, o medo e a superstição.

Algumas manifestações de certas doenças subsidiaram amparo na origem dos lobisomens, como a doença conhecida como Hipertricose, responsável pela causa do crescimento exagerado dos pêlos em pessoas, seja no rosto ou no corpo, conferindo-lhe uma aparência animalesca.



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A hipertricose, por causar curiosidade devido a visível gritante alteração na aparência das pessoas, despertou a atenção de alguns artistas que perceberam, em tais doenças, excelentes motivos para suas pinturas, e assim, foram perenizadas em telas a óleo. Registrando possivelmente casos rotineiramente confundidos como homens lobo, ou, dependendo do ponto de vista, uma besta fera.

Nem todos os casos de hipertricose foram tidos como uma ameaça demoníaca e o mal encarnado, como é o caso que acometeu Pedro Gonzáles, nascido com a doença em 1556, nas Ilhas Canárias – Tenerife – e que foi dado de presente á corte de Henrique II, como se fosse uma espécie de “bichinho de pelúcia”. Com o tempo, Gonzáles despertou a admiração de Henrique II devido a sua expressiva capacidade intelectual, desta forma, Henrique fez de Gonzáles um de seus mais importantes embaixadores. Caso Gonzáles tenha sido motivo a ser conceituado como um mal encarnado ou besta fera, este foi de menos mal; perante comparações às atrocidades da ignorância humana daquela época.

Pedro Gonzáles se casou e teve três filhos, sendo um menino e duas meninas, e todos apresentaram a mesma doença. A obra de arte pintada no quadro à óleo sobre tela do senhor Gonzáles encontra-se registrada no país da Áustria, no castelo de Ambras, em Innsbruck.

Outro famoso caso de hipertricose, registrado no final do século 19, foi a do russo Adrian Chertichev, alcunhado pelos parisienses de 'Cão do Cáucaso', devido a grande quantidade de pêlos que lhe cobriam o rosto.

A história está repleta de lendas e realidades que se confundem estreitamente, basta apenas trazermos a tona alguns curiosos fatos, como a fundação de Roma, ligado à lenda de seus fundadores Rômulo e Remo que foram criados e amamentados por uma loba, o que pode ser colocado em correlação com outras reais histórias registradas sobre pessoas criadas por animais, tidas como crianças selvagens.

É fato que em vários lugares do mundo, crianças selvagens, criadas por animais, foram encontradas; muito das quais, recolhidas e colocadas a reaprender condições humanas. Crianças possivelmente abandonadas e extraviadas na selva, que deveriam ser filhos de agricultores em zonas de pouca população, diante descuido ou alguma calamidade com seus pais, ficaram entregues à própria “sorte”, socorridas por animais, que para sobreviver no meio em que se encontravam, aprenderam a se adaptar.

Torna-se importante ressaltar que notórias características surpreendentes foram observadas em crianças selvagens. Força descomunal nas mandíbulas, grande sensibilidade olfativa, indiferença seja para o frio ou para o calor, não apresentavam porte ereto e nem a capacidade de sorrir, defendiam-se com mordidas, apresentavam caninos desenvolvidos, alimentavam-se diretamente com a boca, mostravam-se hábitos noturnos, entre outros aspectos curiosos.

É o caso de Berci Kutravics, um garoto húngaro encontrado com 4 anos de idade criado pelos cães de sua casa. Dormia rotineiramente no chão, receosamente cheirava o alimento antes mesmo de levar diretamente a boca na comida, e andava curvado.

Nos anos 40, na Arábia, foi descoberto e acolhido um menino que vivia com um grupo de gazelas, onde aprendera a correr tão rápido quanto seus pais adotivos.

“Em junho de 1973, um menino de 12 anos foi encontrado vivendo com um grupo de macacos no Sri Lanka. Ele grunhia, uivava, andava de quatro e se sentava como um primata.” (Revista Fator X, Editora Planeta, Fascículo 02, artigo: ‘Inacreditável... Porém verdadeiro!’, pág. 40).

Em 1920, na cidade de Midnapore, foi encontrado em uma gruta duas crianças, uma com a idade aproximada de um ano e meio e outro mais velho com a idade de 8 anos. Após recolhidos e colocados em condições humanas, o mais novo morreu após um ano e o mais velho sobreviveu dois anos. Nesse percurso de tempo, o mais novo aprendera apenas a ficar ereto e o mais velho aprendeu a média de 50 palavras, antes de sua morte. Alguns pesquisadores argumentam que o que falhou foi à ausência da tutela humana, principalmente afetiva, uma presença emocional materna humana, pois na falta da tutela emocional a deficiência se fará sentir imediatamente. (Milechnin, Anatol – “La Hipnosis”, Buenos Aires, Hachette, 1961, pág. 77s.)

Se, por um acaso, uma dessas crianças supracitadas tivessem sido vistas por agricultores, caçadores ou deparados por alguns supersticiosos, sem dúvidas, ajudaria em muito na idéia do lobisomem. Pode-se ratificar, portanto, de que muitas das lendas se originaram por intermédio destas ocorrências, propagando medo, crendices e superstições.

Esse texto faz refletir aquilo que talvez seja a origem de muitos lobisomens, tanto no percurso da história antiga quanto na Idade Média ou até mesmo para com a atualidade, numa realidade de explicações totalmente humana, numa significação psicológica, histórica e sociológica.


Ataide Ferreira da Silva Neto: é Psicólogo, estudioso em Parapsicologia, presidente da Associação Mato-grossense de Pesquisas Ufológicas e Psíquicas, Consultor da Revista UFO.


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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Lobisomem em Cuiabá: Uma significação psicológica, histórica e sociológica.


Por: Ataide Ferreira da Silva Neto

A própria tradição histórica popular tem se ocupado em perpetuar as perniciosas e estranhas ocorrências emergidas em algumas localidades dos bairros cuiabanos, assim como, no interior mato-grossense.

Quando a lua cheia brilha no céu cuiabano, sinistros relatos vem acompanhando estas receosas épocas noturnas e, segundo os relatos, estranhas coisas passam a acontecer com as pessoas, pelos crescem, dentes alongam-se, psicológicos violentos e irracionais surgem repentinamente. 

Os relatos sobre o lendário lobisomem – de formas variadas – atravessam os tempos, os continentes, as culturas, impregnam na população, desavisada da lógica, a crença e o medo.

Seja pelos tradicionais relatos passados ao longo da história, dos pais aos filhos, seja pela mídia televisiva e escrita, pode firma-se que, as histórias de lobisomem, tem despertado arrepios nos mais supersticiosos. Os receios a esta lenda, vem percorrendo milênios, por intermédio de um mito generalizado entre diversas culturas e civilizações, favorecendo a permanência desta superstição.

A esta transformação bestial humana, no suposto poder de converter-se em lobo, uivar para a lua e rondar pelas noites em floresta, caatinga e no meio do mato, caçando e matando, foi denominado de Licantropia.

Foi através de Ovídio, autor romano, que o termo Licantropia foi designado, pois, de acordo com a história, este autor descreve, no ano um depois de Cristo, o mito do rei Likaon, onde conta que tal rei, de modo ousado, teria desrespeitado o deus Júpiter ao lhe oferecer carne humana escondida num banquete. No entanto, Júpiter havia percebido a trama e ficou extremamente irritado e, como conseqüência, acabou por jogar uma maldição sobre Likaon transformando-o maldosamente em um lobo. Por intermédio deste mito, apropriou-se, dessa forma, a denominação Licantropia.

Em psiquiatria, a licantropia refere-se a uma enfermidade mental com uma estranha tendência canibal, onde o doente comporta-se imaginariamente como um animal selvagem, semelhante ao cão ou ao lobo. Em casos mais graves, alguns desses pacientes supracitados comem apenas carne crua e negam-se a comer qualquer outro tipo de alimento.

A licantropia foi severamente descrita, esplendidamente, na antiguidade, onde durante vários séculos da idade clássica, inúmeros relatos documentados preocuparam a crença popular, sobre a suposta capacidade de transformação humana e a mágica capacidade de transformar outrem em animais.

No século IX, por exemplo, houve uma acalorada discussão entre o Pedro Damião e o Papa Leão IX acerca de um jovem que argumentava categoricamente a afirmação de ter sido transformado em asno por duas mulheres. Sem qualquer apresentação de provas, o jovem acusava inescrupulosamente duas idosas senhoras, por sua permanência, durante muito tempo, na forma de asno, que, segundo ele, apesar da metamorfose, conservou a inteligência humana e viveu assim como animal, por muitos anos, até que um dia retornou a sua forma primitiva. O Papa acreditou na história e ordenou que as bruxas fossem castigadas. (Relato encontrado no livro de: Oliveira, Martins – “Magia do Fogo”, Ed. Livraria Progredior, Porto, 1958, vol.1, 2º edição, pág. – 61).

Na Europa antiga, antes mesmo da ditadura cristã, a população era pagã, e viviam conforme seus costumes pagãos, onde apresentavam certa admiração pelos fenômenos da natureza, viam divindades nas matas, florestas e animais. Nas crenças dos rituais pagãos, a presença de um lobo representava os espíritos das florestas e o símbolo da liberdade.

Com a gradativa chegada do cristianismo, tais rituais pagãos de caráter pacifista foram distorcidos e o lobo passou a ser um dos vários demônios do inferno, assim o lobo passou a ser o próprio diabo. Algumas vezes o lobo era “embruxado” pelo demo.

Nessa visão medieval do catolicismo europeu, o lobo passou a ser o mal transformado, e assim tornou-se rotineiro acreditar que um bruxo poderia se transformar em animal, vagando pelos campos sob aquela arrepiante forma para causar malefícios aos cristãos.

Essas crendices foram motivos para muitas mortes. A credulidade na licantropia tornaram-se verdadeiras epidemias na Idade Média, onde imaginavam-se a existência de milhares de pessoas encobertas de pêlos, com garras e dentes afiados, comedores de crianças. Com a chegada da Inquisição na Europa, muitos homens e mulheres foram queimados vivos pela acusação da capacidade de transformar-se em bestas feras.

Para contribuir, naquela época antiga, a Europa possuía um número incrível de alcatéias. Por vezes, principalmente nas épocas de invernos rigorosos, os povoados e vilarejos europeus eram literalmente invadidos por famintos lobos que, pela escassez de alimento, optavam em satisfazer por alguma “apetitosa” criança descuidada, ou mesmo, qualquer homem adulto, que se arriscasse, tornava-se alvo de banquete aos esfomeados lobos. Tais fatos, conseqüentemente estimulavam os medos, as imaginações, as lendas e superstições épicas.

Muitos dos antigos autores franceses expressaram vastas argumentações sobre os aterrorizantes lobisomens devoradores de crianças. Segundo consta, alguns “licantropos” foram por muitas vezes deparados vagando em campos e matas, imitando o uivo de lobos, imundos, sujos de sangue.

Quando se suspeitava que um lobisomem perambulava pelos campos e arredores de algum vilarejo, logo a população era cogitada para a caçada ao monstro.

Pode-se firmar que, muitas das errôneas interpretações dadas como lobisomem, eram apenas pessoas tidas como loucas que percorriam os campos e as noites. Nada mais do que homens insanos, mal trapilhos, doentes mentais, pessoas relegadas por um povoado e\ou por um vilarejo, que, sem ter o que comer, atacavam as galinhas, bezerros, reviravam lixos, entre outros motivos congêneres impulsionados pela fome e pela debilidade de sua situação psicológica. Tais infelizes, por viverem abandonados, apresentavam aparência sinistra e medonha, pois se mostravam barbudas, cobertos de sujeira, sangue e detritos.

Outro notório fator à cooperar na formação da lenda dos lobisomens, está correlacionado com o sonambulismo, onde, pessoas normais, dormindo, levantam-se, passeiam e agem como se estivessem acordadas. Nas madrugadas de lua cheia, deparar-se estranhamente com algum indivíduo andando sem rumo, tornava-se motivo para suspeitas, pois a probabilidade do leigo desconsiderar qualquer compreensão sobre o sonambulismo é compreensivo, o que pôde auxiliar em estimular importantes inspirações para a perpetuação da lenda.

Há também as deformações físicas, assim como, doenças genéticas e\ou de natureza endócrinas, entre outras inúmeras imperfeições, cujo qual, atualmente é cientificamente explicado, mas que, no entanto, numa época remota, estimulavam o espanto, o medo e a superstição.

Algumas manifestações de certas doenças subsidiaram amparo na origem dos lobisomens, como a doença conhecida como Hipertricose, responsável pela causa do crescimento exagerado dos pêlos em pessoas, seja no rosto ou no corpo, conferindo-lhe uma aparência animalesca.



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A hipertricose, por causar curiosidade devido a visível gritante alteração na aparência das pessoas, despertou a atenção de alguns artistas que perceberam, em tais doenças, excelentes motivos para suas pinturas, e assim, foram perenizadas em telas a óleo. Registrando possivelmente casos rotineiramente confundidos como homens lobo, ou, dependendo do ponto de vista, uma besta fera.

Nem todos os casos de hipertricose foram tidos como uma ameaça demoníaca e o mal encarnado, como é o caso que acometeu Pedro Gonzáles, nascido com a doença em 1556, nas Ilhas Canárias – Tenerife – e que foi dado de presente á corte de Henrique II, como se fosse uma espécie de “bichinho de pelúcia”. Com o tempo, Gonzáles despertou a admiração de Henrique II devido a sua expressiva capacidade intelectual, desta forma, Henrique fez de Gonzáles um de seus mais importantes embaixadores. Caso Gonzáles tenha sido motivo a ser conceituado como um mal encarnado ou besta fera, este foi de menos mal; perante comparações às atrocidades da ignorância humana daquela época.

Pedro Gonzáles se casou e teve três filhos, sendo um menino e duas meninas, e todos apresentaram a mesma doença. A obra de arte pintada no quadro à óleo sobre tela do senhor Gonzáles encontra-se registrada no país da Áustria, no castelo de Ambras, em Innsbruck.

Outro famoso caso de hipertricose, registrado no final do século 19, foi a do russo Adrian Chertichev, alcunhado pelos parisienses de 'Cão do Cáucaso', devido a grande quantidade de pêlos que lhe cobriam o rosto.

A história está repleta de lendas e realidades que se confundem estreitamente, basta apenas trazermos a tona alguns curiosos fatos, como a fundação de Roma, ligado à lenda de seus fundadores Rômulo e Remo que foram criados e amamentados por uma loba, o que pode ser colocado em correlação com outras reais histórias registradas sobre pessoas criadas por animais, tidas como crianças selvagens.

É fato que em vários lugares do mundo, crianças selvagens, criadas por animais, foram encontradas; muito das quais, recolhidas e colocadas a reaprender condições humanas. Crianças possivelmente abandonadas e extraviadas na selva, que deveriam ser filhos de agricultores em zonas de pouca população, diante descuido ou alguma calamidade com seus pais, ficaram entregues à própria “sorte”, socorridas por animais, que para sobreviver no meio em que se encontravam, aprenderam a se adaptar.

Torna-se importante ressaltar que notórias características surpreendentes foram observadas em crianças selvagens. Força descomunal nas mandíbulas, grande sensibilidade olfativa, indiferença seja para o frio ou para o calor, não apresentavam porte ereto e nem a capacidade de sorrir, defendiam-se com mordidas, apresentavam caninos desenvolvidos, alimentavam-se diretamente com a boca, mostravam-se hábitos noturnos, entre outros aspectos curiosos.

É o caso de Berci Kutravics, um garoto húngaro encontrado com 4 anos de idade criado pelos cães de sua casa. Dormia rotineiramente no chão, receosamente cheirava o alimento antes mesmo de levar diretamente a boca na comida, e andava curvado.

Nos anos 40, na Arábia, foi descoberto e acolhido um menino que vivia com um grupo de gazelas, onde aprendera a correr tão rápido quanto seus pais adotivos.

“Em junho de 1973, um menino de 12 anos foi encontrado vivendo com um grupo de macacos no Sri Lanka. Ele grunhia, uivava, andava de quatro e se sentava como um primata.” (Revista Fator X, Editora Planeta, Fascículo 02, artigo: ‘Inacreditável... Porém verdadeiro!’, pág. 40).

Em 1920, na cidade de Midnapore, foi encontrado em uma gruta duas crianças, uma com a idade aproximada de um ano e meio e outro mais velho com a idade de 8 anos. Após recolhidos e colocados em condições humanas, o mais novo morreu após um ano e o mais velho sobreviveu dois anos. Nesse percurso de tempo, o mais novo aprendera apenas a ficar ereto e o mais velho aprendeu a média de 50 palavras, antes de sua morte. Alguns pesquisadores argumentam que o que falhou foi à ausência da tutela humana, principalmente afetiva, uma presença emocional materna humana, pois na falta da tutela emocional a deficiência se fará sentir imediatamente. (Milechnin, Anatol – “La Hipnosis”, Buenos Aires, Hachette, 1961, pág. 77s.)

Se, por um acaso, uma dessas crianças supracitadas tivessem sido vistas por agricultores, caçadores ou deparados por alguns supersticiosos, sem dúvidas, ajudaria em muito na idéia do lobisomem. Pode-se ratificar, portanto, de que muitas das lendas se originaram por intermédio destas ocorrências, propagando medo, crendices e superstições.

Esse texto faz refletir aquilo que talvez seja a origem de muitos lobisomens, tanto no percurso da história antiga quanto na Idade Média ou até mesmo para com a atualidade, numa realidade de explicações totalmente humana, numa significação psicológica, histórica e sociológica.


Ataide Ferreira da Silva Neto: é Psicólogo, estudioso em Parapsicologia, presidente da Associação Mato-grossense de Pesquisas Ufológicas e Psíquicas, Consultor da Revista UFO.


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